Cerâmica na Estufa

Ocupar ruínas, exigência dos nossos tempos:

uma estufa até então utilizada para secagem de tabaco, destinado a alguma multinacional colonialista, agora é ocupada e reconfigurada para a produção de cerâmica artesanal, lenta, responsável – porque responde ao ambiente que habita – e comprometida em resgatar o valor das relações de singularidade entre os artefatos e as paisagens que viabilizam sua produção e existência.

Meus avós, Avanir da Rocha Mielke (nascida em 1948) e Eduardo Mielke (nascido em 1947), atuam no cultivo do tabaco na cidade de Piên, Paraná, há décadas, assim como outras famílias em muitas outras cidades no interior do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Solidária e gentilmente – como sempre -, meus avós cederam a estufa que hoje ocupo com meus apetrechos de fazer cerâmica: o ateliê. Toda minha gratidão a eles por isso e muito mais. Antes de nossa acolhida, meus avós já me ensinavam a ocupar ruínas: recuperaram aqui na estufa uma nascente de água adormecida: plantaram água.

A Cerâmica na Estufa nasce a partir do desejo de ocupar esse espaço e lhe dar outros usos, sentidos e interações com o ambiente. Sabotar a engrenagem de perpetuação da condição colonialista de exploração de humanos e não humanos, saberes e sonhos de vida daqui.

Com o barro, com a terra, (re)aprender a respirar, existir, co-habitar.